sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Como (não) escrever um Artigo Científico Jurídico - Workshop com Henderson Fiirst

            No dia 16 de janeiro, durante as férias, o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito (CAXIM), da Universidade Federal de Goiás, promoveu o Workshop Como (não) escrever um Artigo Científico Jurídico,  com  Henderson Fiirst, Editor jurídico da Editora Saraiva.
Apesar de ter sido uma sexta a noite, foi um evento muito enriquecedor.
        Como é um tema que se relaciona com o objetivo desse blog, resumirei  as principais dicas dadas por  ele, e espero que ajude você, acadêmico de direito, na sua produção científica.  Vale lembrar que as dicas aqui descritas são para publicação, isto é, pressupõe que você quer dar visibilidade ao seu trabalho científico.  


1- A escolha do tema:


- Deve-se  escolher um tema relevante, que contribui para a área jurídica envolvida.
- Atual, isto é que traga uma novidade. Não precisa ser um tema absurdamente inédito e chocante. Pode ser algo já discutido pela doutrina, mas que você possa abordar uma visão nova mesmo com tantas publicações sobre o assunto. Deve-se dialogar com a história doutrinária e dar sua contribuição. 
- Especificidade, não pode ser algo muito genérico. Por exemplo, falar sobre o Direito Civil. Se os doutrinadores escrevem cerca de 10 volumes sobre o isso, o que você pode trazer de novo, em um artigo de 30 páginas??? 
- Os novos autores devem tomar cuidado ao tratar de temas novos. Por um lado se  pode fazer fama rápido, pelo outro pode correr o risco de escrever besteira, pois não tem história jurídica para o tema. 


2- O título


           É como escolher o nome do filho, e será o motivo de se  ler (ou não) o seu artigo. 
Modelos
X e Y: Z (recorte temático)
X vs Y: Z 
X.Y.Z - Não se usa mais


           Não existe um limite de palavras para compor o título, isso é mito. Pode ocorrer que por motivo de diagramação da gráfica, esse número pode ser limitado, mas vai depender do programa de admissão da Editora ou da entidade que promove a publicação do artigo.  


3- A introdução 

       É o lugar onde mais se erra, e é também a parte mais importante do artigo. A introdução tem que conter necessariamente as seguintes informações:
- o objeto
- a metodologia - Segundo o palestrante, apenas 20% dos autores colocam, é o momento em que você irá relatar como analisou o objeto, qual o seu critério, qual o seu percurso metodológico. 
- referenciais teórico - Esse é ainda muito mais esquecido,pois apenas 5% do artigos apresentados para submissão o contém.  É impostante porque demonstra uma consciência científica madura. Sob qual ponto se partiu a análise. Não precisa ser um autor renomado, pode ser seu professor doutorando, desde que relate o motivo que o escolheu.  Mas neste momento há um grande problema, a VAIDADE. Quando se escolhe um referencial teórico que é diferente da banca examinadora da submissão, seu texto poderá ser barrado. Por isso é normal que a banca seja composta por  profissionais de perfis teóricos distintos. 
- roteiro de escrita - O percurso que o leitor irá fazer.
-perguntas que instigue o leitor. 

Obs.: A regra é escrever o texto na 3ª pessoa do singular, com sujeito indeterminado. Mas em consequência do intercâmbio cultural, é comum se deparar com artigos escritos na 1ª pessoa.  Não é de todo errado, mas deve se tomar muito cuidado  a utilizar. 

4- Desenvolvimento do trabalho:

Não existe uma regra  geral para o limite de páginas. Irá depender do manual da chamada do artigo. É normal variar entre 12 a 30 páginas, havendo exceções quando se tratar de um tema inédito ou com bibliografia inédita, poderá chegar a 50 páginas. 

5- Escolha das fontes.

"Quer fazer um bom jantar, escolha os melhores ingredientes!!!"
Regra fundamental, escolha as melhores disponíveis. 
Fique atento aos autores e as obras. Tenha certeza que é um trabalho científico e não mero "achismo", carregados de preconceitos, e parcialidade. 

A melhor dica claro, fica par ao final:
 Write Drunk, Edit Sober!
(escreva bêbado, edite sóbrio) 

        Finalizando, gostaria de chamar atenção para uma fala de Henderson Fiirst.  Ele afirma que a produção científica jurídica no nosso país é realmente ruim.  Os exemplos mostrados na palestra, pode ser  engraçados, mas de longe deixa de ser preocupante. Como eu já havia dito em publicações anteriores, o nosso ensino de direito é ruim. Mas a culpa não é só das faculdades. Há um cilo vicioso no ensino jurídico, onde se formam profissionais do direito de péssima qualidade, e são esses que serão os professores de amanhã!
            É necessário quebrar esse ciclo, e começa com nossas atitudes em sala de aula.
Nós poderemos exigir qualidade se fizermos nossa parte enquanto estudantes. O estudo constante é o mínimo. Como se pode contestar o que  é dado em sala  se não se sabe o que o professor está falando?
            Para criticar é necessário conhecer, e o conhecimento é a nossa maior arma!
Talvez seja utopia acreditar que podemos quebrar esse ciclo, ainda mais que o problema é muito mais profundo, e está relacionado com a educação básica. Ao menos na rede privada, podemos encontrar alunos analfabetos funcionais cursando o  ensino superior.  Sei que cada um tem sua forma de aprender, mas é necessário que dediquemos a leitura! 

           Já dizia o ditado, quem não lê, não escreve, não ouve e não vê!





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